O poder educativo das imagens
Gravuras muitas vezes ignoradas são capazes de estimular o raciocínio, a leitura e até a escrita durante as aulas
Imagens
não devem ficar restritas às aulas de Artes. Aquela foto em um livro de
História ou Geografia é muito mais útil para o aprendizado de
estudantes do ensino fundamental do que se imagina. Se bem discutido e
interpretado, esse tipo de material ajuda a desenvolver o raciocínio e
estimula a leitura e a produção de textos. Conhecida como leitura de
imagem, a atividade faz com que as figuras deixem de ser percebidas como
mera ilustração e sejam aproveitadas como recurso pedagógico.
Segundo
a professora de Literatura da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Marta Morais da Costa, a linguagem visual tem um ritmo
próprio. Muitos aspectos podem ser analisados nela, como
enquadramento, cores, formas, proporção, perspectiva e o que foi
destacado. “Uma árvore é mais do que uma paisagem. Pode representar, por
exemplo, abrigo ou destruição. Tudo isso tem um significado que precisa
ser interpretado pelo aluno.”
Entretanto, cabe ao professor esse papel. Para se chegar a um
resultado, é preciso que ele estimule o debate da imagem em sala de
aula, independentemente da disciplina. Em aulas de História, Geografia,
Ciências e Português, por exemplo, a tarefa é mais fácil. Mas, até as
figuras dos livros de Matemática podem trazer um significado.
Esse tipo de recurso é bastante usado na pré-escola, antes de a
criança ser alfabetizada, já que o contato visual é o primeiro estímulo
que a criança tem e é a forma de adquirirem habilidades
pré-linguísticas. Porém, embora a leitura de imagens esteja prevista nas
diretrizes curriculares do ensino fundamental, especialistas e
pedagogos são unânimes em dizer que poucos professores estão preparados
para conduzir a atividade com qualidade.
O que muitos ainda estão acostumados a fazer é uma leitura formal das
figuras, sem explorar suas várias possibilidades e provocar os alunos a
perceberem outros sentidos em tudo o que veem. Como a imagem é mais
fácil de ser lida, ela chama mais a atenção do estudante e pode ser a
porta de entrada para a leitura de textos, até maiores e mais complexos.
Apelo estético
É mais comum nas escolas a análise de imagens de arte por causa do
apelo estético, embora todo e qualquer tipo de figura possa e deva ser
analisado. Foi a partir dessa constatação que a professora de Artes
Visuais da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Maria Elena Rossi criou a
coleção de livros didáticos As Imagens Falam, que traz um conjunto de
160 imagens de todos os tipos ao final de cada volume para que o
professor estimule os alunos a analisá-las.
“Até os 12 ou 13 anos todos percebem as figuras da mesma forma. Com a
mesma leitura ingênua. Conforme consolidam sua formação cultural e
conhecimento de mundo, mudam a forma de ver. Se estimulados
corretamente, conseguem perceber mais características, o que aumenta a
perspicácia, atenção e a capacidade descritiva”, explica.
Auxílio na superação de dificuldades
Adriana Czelusniak
As figuras também são um recurso importante no processo de ensino de
crianças que têm alguma dificuldade de aprendizagem. Várias abordagens
da pedagogia e da psicologia baseiam-se em ilustrações e quadros de
rotina com imagens. Esses materiais enriquecem e possibilitam o
aprendizado de estudantes com diferentes diagnósticos, como o Transtorno
do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia, autismo e
outros distúrbios que interferem na comunicação.
No caso do TDAH, os recursos visuais são fundamentais, pois facilitam
o entendimento e trazem aspectos mais atrativos para o conteúdo. “Essas
crianças tendem a se distrair com muita facilidade. O uso de
ilustrações para a transmissão do conteúdo pode prender mais a atenção
delas, assim, o nível de concentração também aumenta”, explica a
psicopedagoga Priscilla Santana Van Kan.
Segundo Priscila, quando o estudante apresenta dislexia e tem muita
dificuldade para ler e escrever, as figuras o ajudam a compreender
melhor sem depender tanto da linguagem escrita. “Aí ela verbaliza e,
dependendo do grau de dificuldade, a escola pode colocar a prova oral
como adaptação curricular para a criança. Estudar e aprender não são só
leitura. Cada vez mais as próprias crianças precisam dos recursos
visuais”, diz.
Pessoas com diagnóstico de autismo têm déficit na linguagem, mas boa
parte delas tem memória e percepção visual bem apuradas. Essa
característica faz com que métodos que usam figuras, como o Teach e
PECs, sejam um importante canal de comunicação e ensino. “Os métodos
usam uma habilidade que elas têm para compensar e estimular áreas
deficitárias”, diz a psicóloga Manuela Christ Lemos.
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